Entre as grandes realizações do Dr. Dias de Azevedo, estão
naturalmente a criação da sua família de catorze filhos, a sua
dedicação aos doentes pobres, provavelmente o que fez na Junta, o
apoio que deu à Beata Alexandrina (com os escritos das suas
intervenções de polemista, etc.)
Na
minha cópia do Boletim de Graças, os anos em que ele o dirigiu
enchem mais de 700 páginas, o que é notável. E há lá páginas de
antologia. Seria aliás uma obra de mérito publicar uma colectânea de
escritos saídos neste boletim.
Copio do boletim de Março de 1967 parte do célebre discurso do Mons.
Horácio de Araújo proferido na sessão de abertura do Processo
Informativo Diocesano. O orador falava das suas visitas à Beata
Alexandrina:
“Um dia, durante cerca de meia hora, falava-me a Alexandrina do
mistério da SS. Trindade, da vida íntima de Deus e da graça
santificante. Recordo esse dia como se fosse hoje: eu não sei que
mais admirar nessa conversa que teve comigo, se a elevação, a
sublimidade dos conceitos, se a clareza da linguagem. E nós sabemos
bem que, tratando-se destes assuntos, não é fácil aliar as duas
coisas. Pergunto: donde veio este conhecimento à Alexandrina? Ela
tinha uma cultura rudimentar. Ela não leu grandes compêndios de
teologia… Donde lhe veio, Senhores, esta ciência? Esta ciência veio
do Autor de toda a ciência, da Ciência incriada, da Ciência
infalível, veio-lhe do Senhor. Falava desta ciência, da vida íntima
de Deus como o mais hábil teólogo, como ninguém podia falar de
coisas tão altas, tão sublimes. Uma alma que vivia sempre na maior
intimidade com Deus! É que o Senhor esconde estas coisas aos sábios
e dá-as a conhecer aos humildes: Abscondisti haec a sapientibus.
(…)
Capa da minha
cópia dos Boletins de Graças
do tempo do Dr. Dias de Azevedo.
Estive presente em alguns dos seus êxtases, com licença do médico
assistente, Sr. Dr. Azevedo, a quem me confesso muito grato por esta
deferência, mas confesso que não foram os êxtases que mais me
impressionaram, se bem que ao assistir aos da Alexandrina concluí
que nesses havia intervenção sobrenatural. Eram êxtases místicos,
muito diferentes de fenómenos provenientes de origem mórbida, em que
o paciente, após o êxtase – se assim lhe podemos chamar – quando
regressa ao seu estado normal, encontra-se abatido, cansado,
fatigadíssimo a ponto de por vezes não poder articular palavra. Mas
eu vi como a Alexandrina – permita-se-me a expressão – despertava do
seu êxtase: parecia outra, mas sempre a mesma. A limpidez do seu
olhar, o equilíbrio dos seus gestos, das suas atitudes, a suavidade
das mesmas palavras, enfim, tudo nela fazia crer que estávamos
perante uma criatura normal.
Nunca duvidei dos seus êxtases. Mas o que mais me impressionou eram
as palavras que a Alexandrina dirigia aos circunstantes - e não eram
muitos que tomavam parte nesses êxtases.
Estava um belo dia com cinco sacerdotes da Diocese do Porto. A
Alexandrina entra em êxtase. No fim do êxtase, olhou para nós, falou
do sacerdócio, da necessidade de padres santos… e confesso que nunca
ninguém me falou assim. E um dos presentes, da Diocese do Porto –
tenho pena de não recordar o seu nome, para o citar – voltou-se para
mim e disse: Padre, que diz de tudo isto? Eu disse-lhe: Colega,
gostei mais do após-êxtase do que do êxtase até. Nunca ninguém me
soube falar assim da santidade, da necessidade da santidade do
sacerdote. Tenho a impressão, acrescentei, que o Espírito Santo
falou pela boca da Alexandrina. Os colegas presentes concordaram
todos comigo.
Era assim a Alexandrina, assim a conheci.
Outra grande realização sua foi a cópia dos escritos da Beata.
Quando a família a ofereceu à causa, em tempos do Pe. José Granja,
pude ver os cuidados cadernos em que essa obra se continha. Muito
trabalho ali estava! Muita persistência, muita certeza de que nesses
escritos havia coisa grandiosa. E tempos houve em que ele enviou
cópia desses escritos para algumas casas religiosas.
José Ferreira |